Oporto, PT
Sento-me a ver passar o cortejo. A música anima a gente que dança e canta por trás de máscaras que nos abrem a porta a um mundo de fantasia. Hoje a felicidade é rainha. O padeiro é carteiro, a dona do quiosque é cozinheira, o rapaz vem de pirata e sua mãe de bombeira. A felicidade reina até quarta-feira.
Todos cantam e dançam sincronizados enquanto os sorrisos expressam um sentimento de alegria que todos partilham. Passeiam pelas ruas, alguns ficam à janela a ver. Passeiam turistas que também sorriem e tiram fotografias. Fazem parte da festa, vieram até aqui para ouvir cantar e dançar. É o Carnaval.
O Carnaval não tem língua, não tem nacionalidade. O Carnaval é um momento de alegria a que todos se podem juntar. O Carnaval é quando um homem quer e aqui em Torres Vedras pode ser sempre.
Entro no Centro de Artes do Carnaval por uma fachada histórica. O antigo matadouro, outrora ligado à morte, funciona agora como máscara a um Centro de celebração da vida, da alegria, do humor e da sátira. O edifício antigo serve de entrada a um novo núcleo que espreita sobre o antigo matadouro convidando quem passa a entrar.
No interior, círculo por caminhos sinuosos que lembram as ruas estreitas que encontro lá fora. Mudo repentinamente de direcção deparando-me com vistas que destacam algumas partes do bairro e da praça exterior onde vejo o antigo telheiro.
O edifício lembra uma serpentina lançada sobre o antigo matadouro. Ela move-se e dança ao ritmo do carnaval transformando o bairro num centro de alegria e cultura que procura contagiar a envolvente. A praça exterior oferece aos visitantes um lugar de estar agradável. Um incentivo a actividades culturais e festas que irão atrair todas as camadas etárias e sociais da população. É um espaço de reunião, uma extensão do espaço cultural, ao ar livre de onde podemos observar o contraste entre o antigo matadouro e o novo edifício que como o Carnaval procura provocar quem o olha a esboçar um sorriso.
O novo Centro de Artes do Carnaval, o CAC, eleva-se sobre o passado piscando o olho à modernidade de uma comunidade em processo acelerado de mudança social. Este piscar de olho de um objecto que se assume singular, garante uma imagem forte que se adequa às ambições do município de se projectar a nível Nacional e Internacional. O objecto singular destaca-se da envolvente tornando-se um elemento de diferenciação da cidade e do concelho num contexto relacionado com o Carnaval. Na forma de uma intervenção singular o edifício inspira-se na cultura local, servindo-se da arte como extensão da expressão cultural da população de Torres Vedras, valorizando o património edificado e usando-o como vector de animação cultural e turística.
O carácter do CAC e o seu destaque no contexto urbano vem potenciar e promover actividades artísticas integrando-as na vida social. Ele projecta-se como palco de uma realidade cultural que se prevê activa em animações e eventos que ajudarão a projectar Torres Vedras servindo de convite a visitantes que procurem animação, humor e sátira. Este centro de promoção de eventos artísticos no espaço urbano, torna o próprio edifício num evento que serve de âncora ao desenvolvimento de práticas artísticas e reuniões sociais no contexto da arte e do carnaval. O Carnaval dá-nos legitimidade para quase tudo e o edifício explora essa filosofia.
Status: Competition Entry
Location: Torres Vedras, PT
Firm Role: Architect
Additional Credits: arquitectura – 38N9W
engenharia – AFA CONSULT
arquitectura paisagística – GREENARQ